Neurocisticercose, Neurotoxoplasmose e Neurossífilis

Abordaremos neste blog algumas das principais infecções que acometem o sistema nervoso central.
- Neurocisticercose
Cisticercose é a infecção causada pela forma cística da tênia do porco, Taenia solium, e a neurocisticercose é quando ocorre o acometimento do sistema nervoso central (SNC).
O homem pode adoecer de duas formas:
1 – Ao ingerir carne de porco contendo o cisticerco (Cysticercus cellulosae), que são “caroços” observados na carne, esta é a forma larvária da T. solium. Desta forma, o homem adquire a teníase e a larva passa a viver no seu intestino.
2- Ao ingerir acidentalmente os ovos da larva que são liberados junto com as fezes do homem infectado, podendo levar a outra forma da doença que é a cisticercose. Desta forma, os “caroços” antes vistos na carne do porco, podem se alojar, agora, nos tecidos humanos, como os músculos e tecido nervoso.
A cisticercose é a parasitose mais frequente do SNC sendo responsável por muitas internações hospitalares e sequelas neurológicas graves. Ao mesmo tempo, é muito comum a identificação de cisticercos mortos, em exames de imagem realizados de rotina, e que não apresentam mais risco.
Os sintomas dependem da localização, do número e do estágio de desenvolvimento dos cistos. Os sintomas, geralmente, surgem quando os cistos começam a envelhecer e provocam uma resposta inflamatória do hospedeiro. Os pacientes podem apresentar convulsões, danos neurológicos (paralisias ou dormências em um segmento do corpo), sinais de aumento de pressão intracraniana (dor de cabeça, vômitos e torpor), alteração do comportamento, meningite (febre, dor de cabeça e rigidez do pescoço), entre outros sintomas.
O médico deve suspeitar da neurocisticercose quando estiver frente a qualquer distúrbio neurológico, cognitivo ou de personalidade em pessoa proveniente de área em que a doença é freqüente.
O especialista pode escolher o melhor exame de imagem pra confirmação do local e planejamento terapêutico: Tomografia Computadorizada e Ressonância Nuclear Magnética (RNM). O exame de líquor, realizado através de punção lombar também pode fazer esse diagnóstico. Uma última alternativa, caso os outros exames não tenham sido suficientes, é a biópsia da lesão.
A infecção por vermes adultos pode ser evitada pelo cozimento completo da carne suína. E a prevenção da cisticercose pode ser feita através de hábitos corretos de higiene pessoal e alimentação.
Uma pessoa infectada por T. solium deve ser tratada imediata e cuidadosamente para eliminar os vermes adultos, devendo, juntamente com seus contatos próximos, ser examinada pelo especialista para descartar a possibilidade de infecção concomitante por cisticercose. O tratamento da infecção intestinal é semelhante ao de outras verminoses e realizado através de medicamentos por via oral.
O tratamento da cisticercose tem como objetivo a redução da resposta inflamatória. Portanto, nem todos os pacientes devem ser tratados, pois os cistos podem já estar mortos ou a resposta inflamatória ao uso do medicamento pode ser pior que a doença. O tratamento pode ser, penas a observação, uso de drogas anti-parasitárias e anti-inflamatórios hormonais e, eventualmente, a cirurgia.
As formas da doença que geralmente precisam de tratamento cirúrgico são aquelas que evoluem com aumento da pressão intracraniana: a cirurgia pode ser realizada para retirar o cisto que está causando obstrução, para descomprimir o cérebro que está sofrendo com o inchaço ou para desobstruir a circulação de liquor através de neuroendoscopia ou derivação liquórica, cirurgia também conhecida como válvula, derivação ventrículo-peritoneal, shunt ou derivação ventricular.
A neurocisticercose que acomete a coluna ou medula espinhal, também tem indicação de cirurgia se estiver comprimindo os nervos ou medula.
- Neurotoxoplasmose
A neurotoxoplasmose é uma grave doença neurológica causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. Esse protozoário pode causar lesões cerebrais em pessoas com alterações imunes. Em pessoas com a imunidade normal, o organismo combate o protozoário e não permite o desenvolvimento dessas lesões.
O Toxoplasma gondii é adquirido através da ingestão de água ou alimentos contaminados ou pela ingestão acidental de fezes de gatos contaminados pela doença. Também pode ser transmitido de mãe para bebê durante a gestação.
Nas pessoas com imunidade comprometida, no entanto, a doença é causada na maioria das vezes pela reativação do protozoário que já havia sido adquirido em algum momento da vida e estava latente no organismo.
A neurotoxoplasmose pode causar diversos sintomas neurológicos, como perda de força, dificuldade para caminhar, confusão mental, dificuldade na fala, sonolência ou coma.
O diagnóstico é feito através de uma combinação de fatores. O médico analisa a história clínica, o exame físico e exames de imagem, como a tomografia ou a ressonância do crânio. Quando há a suspeita de neurotoxoplasmose, inicia-se o tratamento e depois será avaliada a resposta clínica e a melhora do exame de imagem. Por vezes, quando não há melhora, pode ser indicado exame de biópsia para avaliar outros possíveis diagnósticos.
Na maioria dos casos é necessária a internação hospitalar.
O tratamento da neurotoxoplasmose é feito com antimicrobianos que combatem o Toxoplasma gondii. Além disso, corticoides podem ser indicados.
Os fatores que reduziram a imunidade do paciente também devem ser manejados.
No caso dos pacientes infectados pelo HIV, o tratamento do vírus previne a neurotoxoplasmose e as demais doenças oportunistas. Quando o diagnóstico da infecção pelo HIV é feita em um momento mais tardio, quando a imunidade já está baixa, e a pessoa já teve contato com o Toxoplasma gondii em algum momento da vida (é possível saber isso por um exame de sangue), existe também medicação para prevenir o desenvolvimento de neurotoxoplasmose enquanto a imunidade está subindo.
Para os pacientes transplantados, por vezes não é possível reduzir os remédios que reduzem a imunidade pois eles têm a função de prevenir a rejeição. Nesses casos, naqueles que já tiveram contato com o protozoário usa-se medicação profilática para prevenir o desenvolvimento da neurotoxoplasmose.
As pessoas que tem imunidade comprometida e nunca tiveram contato com o Toxoplasma gondii devem ter cuidados especiais com a alimentação para evitar a infecção.
- Neurossífilis
A neurossífilis é uma condição médica complexa e debilitante que afeta o sistema nervoso central, sendo uma manifestação um pouco mais tardia da infecção por sífilis, mas que pode ocorrer em estágios mais iniciais da doença. A sífilis, uma IST (Infecção Sexualmente Transmissível) é causada pela bactéria Treponema pallidum, e quando não tratada adequadamente, pode se disseminar para o cérebro e a medula espinhal, resultando na neurossífilis.
Uma vez estabelecida no sistema nervoso central, a bactéria Treponema pallidum provoca a inflamação dos tecidos cerebrais e a destruição de células nervosas. Essa resposta inflamatória e a disseminação da bactéria resultam em danos neurológicos, caracterizando a neurossífilis.
É importante ressaltar que nem todas as pessoas com sífilis desenvolvem a neurossífilis. Essa complicação ocorre principalmente em casos de sífilis não tratada ou inadequadamente tratada ao longo do tempo. Por isso, é essencial que a sífilis seja diagnosticada precocemente e tratada com antibióticos adequados para prevenir a disseminação da infecção para o sistema nervoso central.
Pode ocorrer mudança de humor, irritabilidade, depressão, ansiedade, alterações de comportamento e personalidade, insônia, falta de concentração e perda de interesse nas atividades diárias. Dificuldades de memória, perda de memória recente, confusão mental, dificuldade de raciocínio, problemas de atenção e concentração. As dores de cabeça podem ser recorrentes e persistentes, muitas vezes acompanhadas de enxaqueca. Fraqueza muscular, paralisia parcial ou completa, dificuldades de coordenação motora, tremores e falta de equilíbrio. Visão turva, visão dupla, perda de visão parcial ou total e inflamação ocular. Dormência, formigamento, sensação de queimação ou dor nos membros. Convulsões: Episódios de atividade elétrica anormal no cérebro, que podem resultar em convulsões. Pode ocorrer disfunção do sistema nervoso autônomo, afetando funções como controle da pressão arterial, frequência cardíaca, sudorese e controle da bexiga. Em casos avançados, a neurossífilis pode levar à demência, caracterizada por perda significativa de memória, déficits cognitivos e declínio geral das funções mentais.
A neurossífilis pode se manifestar em diferentes estágios e pode ser confundida com outras condições neurológicas. Portanto, é fundamental buscar avaliação médica para um diagnóstico preciso e iniciar o tratamento adequado o mais cedo possível.
Diagnóstico: exame do líquor (líquido cefalorraquidiano) desempenha um papel fundamental nesse processo, fornecendo informações importantes sobre a presença da infecção no sistema nervoso central.
Além disso, alguns exames como as tomografias computadorizadas, ressonâncias magnéticas e angiografias cerebrais podem ajudar na identificação e avaliação de possíveis alterações cerebrais.
Já os exames sorológicos de sangue como o FTA-ABS e o VDRL ajudam o médico responsável pelo caso a identificar anticorpos que são frequentemente relacionados a quadros de sífilis.
É comum que o tratamento seja realizado em ambiente hospitalar, onde o paciente precisará tomar injeções intravenosas diárias contendo doses de antibióticos por no mínimo 10 dias.
Passado esse período, com o esquema de medicação concluído, haverá uma avaliação realizada por meio da coleta de sangue ao terceiro e sexto mês, após a alta hospitalar, bem como a cada 1 vez ao ano durante o período de três anos para confirmar a cura da infecção.
Por ser uma infecção que causa graves consequências para a saúde do paciente em modo geral, a neurossífilis deve ser prevenida por meio do tratamento correto dos quadros de sífilis. Por outro lado, a prevenção da sífilis também é uma forma de se proteger da neurossífilis, com isso, o uso de preservativos em toda e qualquer relação sexual é indispensável.